Embora a tarefa de jardineiro glacial me exija relevante esforço físico e traga alguma satisfação (meu desempenho com a pá se aprimora a cada dia), decidi retomar as atividades de desporto à maneira mais tradicional. À míngua do futebol, voltei a malhar. A academia onde passo então a freqüentar, na Rua Pushkinskaya 47, aqui em Kharkov, se apresenta em parte de forma semelhante tal qual no Brasil, ou pelo menos no sul do Brasil. Os aparelhos, as gostosas, e aquela opção detestável por sons eletrônicos nos parlantes do ambiente. Iniciei ontem, tranquilo. O orientador que por lá andava nem me deu pelota, treinei em paz. Porém a paz poucas vezes pertenceu às estepes deste território cossaco. E assim, hoje, no segundo dia de malhação, em meio às minhas primeiras repetições aproximou-se este simpático e prestativo armário de madeira da taiga siberiana com patas: Vladimir. O Vladimir, embora retaco, é muito largo e forte. Aliás, todos os homens dessa academia são muito grandes e largos, mas largos mesmo. São tão largos que só entram em casa pela porta da garagem. E eu? Eu no Brasil me considerava, cheio de audácia, um meia-boca. Aqui sou um frangote. Mas o futebol brasileiro, desde o esquadrão de ouro, nunca teve a força como maior atributo de sucesso, senão a técnica e a habilidade, aliados a um toque de malícia. Ou seja, sou um frangote pentacampeão. Tak.
O Vlad é um daqueles orientadores de academia que se deixam tomar pelo entusiasmo. Mas a dose excessiva de entusiasmo dele acabou comigo. O desgraçado me passou os exercícios mais estranhos e complicados, com a maior carga de peso possível que eu conseguia suportar. E ele treinava junto. A cada intervalo meu, ele ia fazer algum exercício. Na maioria das vezes ele pendurava quatro anilhas de dez quilos nos ganchos do cinturão de H-man, se pendurava no galho de metal tal qual primata, e fazia incontáveis apoios aéreos, guinchando, berrando, baforando. Uhh!!! Uhh!!! Arghh!!! E não bastasse a sequência “alternativa” que ele me impunha, o cara implicou com o meu silêncio. Eu deveria respirar com gana. E gritar. Como ele. Uhh!!! Ráa!!! Puta merda, aonde eu fui parar. E de onde veio esse gorila? Isso é treino pra lenhador, ou pro Dino da Silva Sauro.
Então resolvi entrar na dele. Comecei a fazer cara feia, a puxar e soltar o ar de forma baleiesca, e a gritar Arghh. Da, horosho, dizia o gorila, apontando enorme aprovação na sua cara quadrada. Então, para finalizar a tortura, o Vlad me apresentou um treino abdominal diferenciado, que já batizei de “abdominal islâmico”. Em frente às cordinhas para inchar o tríceps, ele estendeu um tapetinho. Ali ele se ajoelhou, agarrou as cordas e baixou o tronco de maneira que a testa tocasse o tapete e os cotovelos encontrassem os joelhos. Bah, sacramento! Soviético louco! Foi então que percebi que a academia se enchera, e que muitos na sala nos observavam, e que também havia muitos caras com bandanas negras na cabeça, verdadeiros corsários. Tive que rir. Na verdade dei uma semi-gargalhada. Afinal éramos todos piratas, malvados e temerários. Ajoelhei-me (não sei em qual direção fica Meca), agarrei as cordinhas, apontei a testa em direção ao tapete e Arghhhhhhhh!!! O Vladimir sorriu. O garoto está pronto, deve ter pensado. Sobreviverá às estepes.
E a foto do Vlad, Mr Google?
ResponderExcluirhahahaha, dale Vlad. Fernanda.
ResponderExcluirVlad valadao!...O lenhador, wolverine.
ResponderExcluirAbras Teuto...
haha... está quase lá, Daniel Sam.
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