quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O absorvente totalitário

Estou na Ucrânia desde o dia vinte e um de dezembro. Tenho o que contar, mas como nao escrevo há semanas,  nao poderei ser linear. E pra embaralhar um pouco mais, vos anuncio a boa nova, Jesus vai nascer amanha, dia sete de janeiro. Dois natais para fomentar ainda mais as compras e esquentar o mercado? Niet. Isso tudo porque a igreja ortodoxa, predominante no país, utiliza o calendário Juliano, diferente do Gregoriano usado no ocidente. Dito isso, Feliz Natal a todos (nao, nao vou ganhar dois presentes).
Odessa, com toda essa onda chick mick me parece ser a cidade mais apartada da realidade do país. Catarina "A Grande", imperatriz russa, vislumbrou em fazer da cidade a "Sao Petersburgo do Mar Negro". Одеса (Felipe brincando com o teclado), que abriga o principal porto da Ucrânia, é de fato primorosa. Na "noiva do Mar Negro", como é virginalmente chamada, as temperaturas sao um pouco mais amenas, e o turismo toca a economia. O pessoal aqui gosta da pompa, e me parece estar sempre em busca da grandeza perdida, o que, a meu ver, dá um ar kitsch ao local. Mas ser brega é uma liberdade democrática. O pior é ver o Estaline com cuia na mao, como no cartaz abaixo pregado na vitrine de uma loja "fake" da FUNAI, que entre cocares de nativos norte-americanos - pensem no Touro Sentado - mantém em suas prateleiras alguns pacotes de erva de Misiones de la Argentina. Tá bueno, tá cheio de gaúchos totalitários sorvendo um mate em todos rincoes do estado, mas esse qüera eu nao convidaria pra entrar na roda do mate. Se ele soubesse como eu andava vestido hoje, me mandaria pros campos de trabalho forcado na Sibéria. Explico. Estamos como formigas nos preparando para o inverno. Ontem senti tanto frio nas pernas, que tive que comprar uma meia-calca. Nao é ceroulao, é meia-calca mesmo, dessas enfiadas no rego, muito comum por aqui. Esquenta mesmo, e é bem gostosa. Tem mais. Como ainda nao achamos band-aid nas apotecas, enjambramos um módis (os modernos chamam de absorvente) no garrao (que os mesmos modernos chamam de calcanhar) para amenizar a dor martirizante dos calos. Assim fomos comprar erva-mate. Uma afronta binacional, eu sei, mas a necessidade faz o ladrao, ou o sapo pular. Assim, de meia-calca, módis no pé, e mesclando ervas hermanas, tô firme, bem galo, fervendo por dentro e listo pra encarar essa geladeira. Que venha esse minuanozinho!
Amanha bem cedo, Reverendo, Rosetchka e eu partiremos de regresso a Kharkov. A viagem deverá durar nao mais do que dez horas. Buscamos ainda um produto especial que evita o congelamento do sistema hídrico do carro, já que as temperaturas estao variando entre menos cinco e menos dez graus na escala do Celso. Amigos, desconsiderem a falta de "til" e "cedilhas" no texto, o camarada teclado nao está cooperando comigo. Da Svidania.

4 comentários: